RENÉE PEREIRA - O ESTADO DE S.PAULO
07 Julho 2016 | 00h 25 Atualizado: 07 Julho 2016 | 00h 25
Presidente do conselho diz que grupo precisa reconhecer ‘ações, omissões e complacências’
No centro da maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro do Brasil, o grupo Odebrecht lançou nesta quartafeira, 6, um novo
código de ética contra práticas ilícitas, durante evento realizado em hotel de São Paulo pelo presidente do conselho de administração da
holding, Emílio Odebrecht, com 170 executivos da empresa.
O filho do fundador da construtora, Norberto Odebrecht, morto em 2014, reconheceu erros da companhia, mas fez críticas à
participação do Estado na esfera privada. “Destaco, no Brasil, o sistema políticopartidário, o excesso de burocracia e a exagerada
interferência do Estado na vida do cidadão e das empresas”, afirmou Emílio.
Seu filho, Marcelo, está preso desde 19 de junho de 2015. O presidente afastado da Odebrecht foi condenado a 19 anos e quatro meses de
prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
“Temos de reconhecer nossa parcela de responsabilidade quanto às dúvidas sobre nossos comportamentos, ações, omissões e
complacências que hoje existem junto à opinião pública”, disse o executivo.
Como Marcelo, outros executivos do grupo foram condenados, como Márcio Faria, Rogério Araújo, César Ramos Rocha e Alexandrino
Alencar. No fim de maio, a cúpula da Odebrecht assinou acordo de confidencialidade com a forçatarefa da Lava Jato. É o primeiro
passo para uma eventual delação premiada de Marcelo.
‘Sem choro’. Chamadas de sistema de conformidade, as novas regras de conduta foram elaboradas a partir de visitas a empresas
globais que adotam políticas rígidas de compliance (conformidade), de acordo com Sergio Foguel, coordenador do Comitê de
Conformidade. Segundo ele, as punições podem ir do desligamento do funcionário ao descredenciamento de fornecedores. “Não adianta
chorar sobre o passado. Temos de adotar medidas para o futuro”, disse ele.
Há três meses, a Polícia Federal revelou a existência de um “departamento de propina” dentro da empresa ao deflagrar a Operação
Xepa, em 23 de março. O setor obedecia a um hierarquia com programas de contabilidade e comunicação próprios para pagamentos de
valores irregulares.
Conforme revelou o Estado, um dos executivos apontados como operadores de offshores do “departamento de propina” afirmou em
delação premiada que o grupo chegou a comprar um banco para acomodar suas transações “suspeitas”. Vinícius Veiga Borin disse em
depoimento à forçatarefa da Lava Jato que a empreiteira controlou 42 contas offshores no exterior, sendo que a maior parte delas foi
criada após aquisição da filial de um banco, o Meinl Bank Antigua, no fim de 2010.
A movimentação financeira, contou, chegou a US$ 132 milhões. O delator foi o primeiro a falar em detalhes de transações do grupo com
offshores. Exempregado do Antigua Overseas Bank, ele e outros exfuncionários do AOB se associaram a dois executivos da central de
propinas da empreiteira, segundo a Lava Jato, para adquirir a filial desativada do Meinl Bank, no paraíso fiscal.
Tolerância. Na dinâmica de grupo no hotel, Emílio expressou intolerância contra quebras de conduta dentro do conglomerado a partir
de agora. “Qualquer tipo de pagamento que possa ser interpretado como propina, suborno ou extorsão não será tolerado.”
Fonte: Estadão
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